Pesquisa realizada no Cariri demonstra como é possível manter uma produção agrícola e a preservação florestal.
Os antigos povos Kariri já ensinavam que era compatível extrair alimentos e fontes de energia sem precisar queimar e degradar o meio ambiente. Esses ensinamentos foram esquecidos ao longo do tempo, por conta da colonização, em que o Europeu introduziu a técnica de queimadas como forma mais rápida para o cultivo da terra.
Essa mudança de manejo teve consequências graves ou até devastadoras em diferentes biomas. No caso do semiárido nordestino, agravou o processo de desertificação e tornou o solo menos fértil para a agricultura. Eis que agora a pesquisadora Milene Madeiro resgata os saberes atávicos das etnias do Sul do Estado e recupera conhecimentos de que se pode conciliar a preservação das florestas e os processos de produção do campo.
Esse foi o objeto de sua dissertação no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema), mantido pela Universidade Federal do Ceará (UFC), concluído em março passado.
“Sob a emergência de pensar os desafios e problemas relacionados à sustentabilidade socioambiental no semiárido cearense, e tendo como foco principal o papel dos processos comunicativos nesse contexto ambiental, a dissertação investiga o caso da disseminação dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) de produção entre famílias camponesas na região do Cariri, no Sul do Ceará. O ponto de partida do estudo são os registros sobre o Povo Kariri, cuja cultura é marcada por uma espiritualidade entranhada na relação com a natureza, repassada por processos de comunicação oral”, afirma Milena Madeiro na sua pesquisa, que teve a orientação do professor José Levi Furtado Sampaio.
Lições
No decorrer de dois anos de pesquisa, ele construiu pontes entre a complexa trama teórica acadêmica e o chão da existência camponesa. Para tanto, uniu a capacidade da leitura com a da observadora cuidadosa.
Milene afirma que os resultados foram os mais satisfatórios na forma como se pôde acompanhar quatro famílias e observar que podiam desenvolver práticas agrícolas, não apenas mantendo a floresta como contribuindo no equilíbrio.
“Na tentativa de fazer uma leitura interdisciplinar sobre o contexto desse estudo, é que procurei compreender como se dão as conexões entre os processos comunicativos e a trama cultural, política, social e ambiental que no Cariri levou à existência dos camponeses agroflorestais como ação contra-hegemônica”, afirma.
Contudo, destaca que algumas nuanças foram contempladas, outras dezenas ficaram de fora. Do ponto de vista da comunicação, ressalta que esse foi o aspecto mais relevante de sua pesquisa, porque esse acontecia como fundamental para o compartilhamento dos saberes.
“O camponês nunca se acha um protagonista na mídia, quando não se trata de seca e miséria. Nesse caso, ele é ator de grande importância na produção e preservação da floresta”, concluiu.
Veículo: http://diariodonordeste.globo.com
Publicado em 22 de Abril de 2012
Leia na íntegra: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1129681
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